domingo, 19 de agosto de 2007

Tropeiros: Uma viagem no tempo

Ainda não existem estados. O que existe é a Capitania de São Paulo. As terras que ainda serão, um dia, o Estado do Paraná, fazem parte da Capitania de São Paulo. E a maior parte dela é desabitada – isto é – desabitada por cristãos. Há índios, bugres, onças e outros bichos. É preciso colonizar a terra vazia. Mas como? Ocupando a terra seja lá como for. Já havia certa colonização cristã no litoral. O que se precisava agora era colonizar as terras “acima da serra” ou “serra acima”. Como ocupar a terra? Ora, primeiro, levando animais até os campos “serra acima” e soltando.

Os animais livres e soltos cresceriam, se multiplicariam e se espalhariam. No futuro eles serviriam de alimento e apoio para futuras incursões. Ao mesmo tempo, a presença dos animais na terra dava base para que os donos dos animais requeressem terras ou sesmarias da Coroa. A essa soltura de animais no campo se chamou de criatórios ou “fábrica de animais”. Era por volta de 1600. E assim começava um ciclo econômico no Brasil chamado de tropeirismo. Homens levando “tropas” de animais do litoral para os campos de Curitiba e Ponta Grossa.

Contudo foi só após a descoberta de ouro nas Minas Gerais que o tropeirismo ganhou forças. A Coroa – mesquinha e mão-de-vaca – não permitia que os trabalhadores de Minas se dedicassem a qualquer outra atividade que não fosse a extração de ouro. A comida teria que vir de fora. No princípio, o gado solto nos criatórios dos campos de Curitiba e Ponta Grossa pelos “paulistas” parece ter dado conta da missão de fornecer carne e animais (cavalos e mulas).

Mas logo, os olhos dos comerciantes voaram até mais longe e caíram sobre os campos de outro lugar bem mais ao Sul: os campos do Rio Grande do Sul, que havia sofrido ou vivido processo colonizador similar nos campos da terra “missionera” e nas vacarias do mar. Os animais, também soltos lá, eram arrebanhados e conduzidos aos centros consumidores de comida e produtores de ouro. Esses animais arrebanhados ou rebanhos de animais eram trazidos até certo lugar de onde partiam em caravana, grupo, ou rebanho que recebia o nome de “tropa”, dirigidos, levados guiados por tropeiros. É bom lembrar que no Pantanal as tropas de gado são chamadas de “comitiva” até hoje.

Eles viam das “vacarias do mar” até Laguna, Santa Catarina onde eram embarcados para o Rio de Janeiro ou portos da Capitania de São Paulo. O tropeirismo que nos interessa começa quando, a Coroa autoriza a abertura de um caminho que ligaria Laguna (Santa Catarina), seguindo o “Caminho dos Ambrósios” aos campos gerais e aos campos de Curitiba.

Em 1727 o sargento-mor Francisco de Souza recebeu ordens para abrir “caminho por terra” da Capitania de São Pedro aos campos Corityba partindo do Morro dos Conventos (Laguna) atravessando 300 quilômetros de matas fechadas nos “sertões das Lages Catarinenses”. Do Morro dos Conventos até a margem do Rio Negro, divisa com o Paraná, o trabalho consumiu três anos” (Folheto Rota dos Tropeiroios”)

... “Em 1731, Cristóvão Pereira de Abreu realiza a primeira travessia pelo caminho, transportando, ou melhor guiando, a primeira tropa com mais de 800 mulas e cavalos. E em 1733 Abreu faz nova viagem desta vez conduzindo 3000 cavalgaduras contando com uma equipe de 130 pessoas entre tropeiros, capatazes e peões. Só que desta vez partindo de Colônia do Sacramento, Uruguai, às margens do Rio da Prata. Após 13 meses chega ao Campos de Curitiba.

Imagine fazer uma viagem de 13 meses no lombo de cavalo, ou até a pé, o caso de muitos peões?

Voltando à segunda viagem de Abreu, após um descanso, ele atravessou os Campos Gerais, na direção dos Campos de Itapeva (São Paulo) onde invernou a tropa.Daí prosseguiu via Sorocaba até Vila Rica em Minas Gerais. Esta viagem foi um marco
histórico do ciclo do tropeirismo.

1 Comment:

Sebastiao Loureiro said...

Olá, reproduzi o post em meu bloguinho República Blog de Itapeva. Parabéns. Abraço.